Rodando LineageOS no meu Nexus 5X

Traduções: English (en)
Data de publicação: 30/03/2022
Categorias: nexus5x, lineageos

Esse mês completa um ano desde que eu comprei um Nexus 5X e comecei a usar LineageOS, então parece um bom momento para compartilhar minha experiência.

Compra e instalação

Aproximadamente um ano atrás, um amigo me disse que tinha achado uma oferta muito boa para um Nexus 5X online. O Nexus 5X já é um celular antigo, lançado em 2015, e por isso tende a ser bem barato, apesar de ainda ser um celular bem decente mesmo para os padrões atuais. A oferta que ele encontrou era para um Nexus 5X novo, que vinha dentro da caixa original, perfeitamente conservado, e ainda sim custava apenas R$ 300. Um ótimo negócio.

Nesse ponto eu já estava usando Linux no meu computador há vários anos, mas meu celular, possivelmente a máquina que tem acesso à maior quantidade de informações pessoais, ainda estava rodando Android, que é um SO que não é completamente FOSS, e isso me incomodava bastante.

Eu já tinha tido vontade de mudar para o LineageOS, a alternativa FOSS ao Android, há algum tempo, mas como era meu único celular parecia muito arriscado. Com a possibilidade de ter um novo Nexus 5X de repente eu vi a oportunidade de ter um celular bem testado (e amado) com LineageOS, e se tudo desse errado, meu celular antigo ainda estaria lá com tudo exatamente do mesmo jeito. Então eu decidi pegar um Nexus para mim também.

Eu segui o guia de Nexus 5X do meu amigo e tive um pouco de ajuda pessoal dele para entender os componentes de software necessários para rodar uma instalação de LineageOS totalmente sem Google. No meu caso o celular era novo, então eu pude usar uma imagem sem o patch de BLOD e ter acesso à performance total do Nexus 5X.

A instalação em si foi fácil de seguir (tudo bem que eu tinha acesso a um guia e um mentor). E ao final eu tinha meu próprio celular com LineageOS, MicroG e Magisk, completamente sem Google e ainda sim capaz de instalar software que dependesse do Google Services quando necessário.

Problemas

No geral a experiência é ótima, mas tem dois problemas principais:

  • Problemas frequentes na câmera: Basicamente toda vez que eu abro a câmera, ela fecha na primeira vez, e eu preciso abrir de novo e aí ela funciona. Irritante, mas ainda não o suficiente para eu ir tentar consertar.
  • Suporte de GPS errático: O GPS foi a coisa mais difícil de fazer funcionar. Eu lembro de ter visto algumas pistas nesse artigo, e finalmente consegui fazer funcionar simplesmente habilitando os módulos de localização "Mozilla Location Service" e "WiFi Location Service", mas nem sempre funcionava e demorava um tempo inicial antes de começar a funcionar. E aí eu mudei de país e agora não consigo mais fazer funcionar...

Mas esses são problemas de software que podem eventualmente ser consertados. Tem uma única limitação de hardware no Nexus 5X que me deixou decepcionado assim que eu notei: Ele só tem 16GB de armazenamento interno e não tem entrada para cartão SD.

Para os aplicativos, 16GB na verdade é até ok, mas para tirar fotos ou vídeos e armazenar música, não era o suficiente.

Procurando por mais espaço

Mas eu não desisti logo de cara. O celular estava tão perto de ser perfeito, eu precisava achar um jeito de contornar a falta de espaço de armazenamento.

O Nexus 5X tem uma porta USB-C OTG, então eu percebi que poderia comprar um pendrive USB-C, o menor possível para que não fosse muito intrusivo, para efetivamente expandir o espaço de armazenamento.

Depois de pesquisar um pouco, o pendrive USB-C mais compacto que eu encontrei foi o Kingston DTDUO3C/128GB. Então foi ele que eu comprei. Logo que ele chegou eu notei que ele vinha com uma cordinha para chaveiro e a capa do meu celular tinha uma cavidade para isso, então eu amarrei ele lá e achei que ficou bonitinho. Dito isso tem algumas desvantagens: o pendrive as vezes engacha no meu bolso, e também bate na tela. Ficou assim:

{image}/usb_disconnected.jpg {image}/usb_connected.jpg

Mas assim que eu inseri o pendrive eu fiquei desapontado ao ver que o tocador de música não reconhecia nenhuma música que estava lá. Aparentemente o pendrive estava funcionando apenas como um simples armazenamento e eu só conseguia mover arquivos de/para ele usando o gerenciador de arquivos.

Mas como isso era um problema estranho, eu pensei que deveria ter um jeito de contorná-lo. Afinal, era só uma limitação arbitrária imposta pelo Android. Depois de um pouco de pesquisa, de fato, um artigo no fórum do XDA veio para o resgate com uma solução de praticamente uma linha:

su
sm set-force-adoptable true

E só com isso, reinserindo o pendrive fez o tocador de música rapidamente começar a indexar todos os arquivos de música que ele tinha acabado de encontrar no pendrive. Funcionou!

Mas tem um grande porém: eu preciso sempre lembrar de inserir o pendrive antes de abrir o tocador de música, e fechar ele antes de remover o pendrive. Caso contrário o tocador não enxerga mais nenhuma música no dispositivo, e na próxima vez que eu inserir o pendrive, ele demora alguns minutos indexando todos os arquivos de novo (e travando algumas vezes durante o processo).

Dado que eu precisava que meus arquivos de música (e possivelmente fotos) fossem sincronizados com o computador, eu também estava interessado em fazer o Syncthing funcionar com pastas no pendrive.

Para a minha surpresa isso não funcionou de primeira: O Syncthing só tem permissão de leitura em armazenamentos externos. Mas eu logo descobri que dando permissão de root para ele remove essa limitação, e isso pode ser feito pelo Magisk. Não é a solução ideal, mas pelo menos com isso eu tenho uma configuração funcional para sincronizar e tocar músicas no celular!

Eu também estava curioso para ver se eu conseguiria fazer a câmera salvar fotos e vídeos diretamente no pendrive. Isso resolveria a maior parte do problema de pouco espaço no celular.

Para não alterar as configurações do aplicativo de câmera principal, eu baixei o aplicativo Simple Camera e configurei ele para salvar em uma pasta no pendrive. Para minha surpresa ele simplesmente pediu permissão de escrita para o pendrive, e não precisou ser rodado como root como o Syncthing.

Então eu tentei gravar um vídeo com ele. Na primeira tentativa ele deu um erro e pediu para escolher a qualidade de imagem e eu abaixei para 1080p. Eu acho que a velocidade de escrita do USB não era rápida o suficiente para a resolução original da câmera.

Com isso feito, eu consegui tirar fotos e vídeos. Logo depois que eu paro a gravação do vídeo o aplicativo fecha, mas o arquivo parece ser corretamente escrito no pendrive e sincronizado com o computador.

Mas no fim até o momento eu tenho evitado usar o pendrive para a câmera (usando o aplicativo de câmera original), porque, diferentemente de música, tirar fotos/vídeos é situacional, e eu não quero arriscar que minhas fotos falhem ao salvar ou precisem de múltiplas tentativas (já basta o aplicativo travando...). De qualquer forma é bom saber que ele fuciona, até certo ponto, para quando eu quiser usar a câmera e o armazenamento interno estiver cheio.

Pendrive como armazenamento interno

Mas algo mais aconteceu quando eu habilitei a configuração force-adoptable. Navegando nas configurações, aparentemente que agora eu podia formatar o pendrive como um armazenamento interno. Isso faria com que a memória do pendrive fosse usada transparentemente, até para armazenar os aplicativos instalados. Mas uma pergunta veio à mente: "O que aconteceria quando eu removesse o pendrive?". Só tinha um jeito de descobrir se isso seria usável ou não...

Levou em torno de 30 minutos para o pendrive ser formatado e a maioria dos dados do armazenamento interno ser movido para ele. Mas no final eu tinha extendido o armazenamento do meu celular em 128GB com sucesso. E a sensação foi de... muita lentidão. O sistema inteiro ficava dando travadas o tempo todo. Pelo visto a velocidade do pendrive é muito mais lenta do que a do armazenamento interno. E agora que o sistema dependia dessas transferências isso ficava bem aparente.

Mas talvez eu conseguisse viver com um celular lento em troca de mais espaço de armazenamento, né? E a grande pergunta: o que acontece quando o pendrive é removido? Isso é muito importante de saber já que eu precisaria removê-lo no mínimo para carregar uma vez por dia. E a resposta é: ele não gosta nem um pouco disso. O sistema reinicia 😝.

Eu passei quase três dias assim: Com um celular com um armazenamento gigante de 128GB, mas que era lento e reiniciava toda vez que eu precisava recarregá-lo (o que também acontecia mais frequentemente já que o pendrive aparentemente consome bastante bateria).

No final desses três dias eu já estava cansado disso e então reformatei o pendrive como armazenamento externo e voltei para a configuração anterior. Foi um experimento interessando (apesar de frustrante).

Recomendações de aplicativos

Em questão de aplicativos, eu tento o máximo possível usar aplicativos da loja F-Droid, mas tem alguns aplicativos que eu ainda preciso usar da PlayStore. Felizmente, o aplicativo AuroraStore, que já vem instalado, pelo menos fornece uma alternativa privativa à PlayStore.

Dos aplicativos que eu instalei da F-Droid, esses são os que eu realmente gosto:

Conclusão

Eu não sei por quanto tempo vou continuar usando esse celular, mas eu com certeza não volto mais para o Android. Eu vou ou continuar com o LineageOS or talvez me aventurar no PostmarketOS, se a experiência de usuário estiver num nível bem usável até lá (ou não se eu sentir que de repente tenho bastante tempo livre 😝). De qualquer forma eu vou garantir que meu próximo celular tenha mais espaço de armazenamento 🙂.