Aprendendo com o SerenityOS

Traduções: English (en)
Data de publicação: 29/04/2022
Categorias: serenityos

Um dia eu estava navegando pelo Reddit como de costume, quando eu vi uma postagem linkando para esse artigo: I quit my job to focus on SerenityOS full time. Eu fiquei intrigado pela história, pela premissa desse SO, e também pelo fato do seu desenvolvimento estar sendo gravado no Youtube.

Agora, quase um ano depois, eu assisti quase todos os vídeos que o Andreas publicou no canal desde então e alguns dos mais antigos também. Os vídeos dele säo muito bons, eles são divertidos, inspiradores e eu aprendi muito com eles. E ele é uma pessoa muito boa também. O fato de um projeto tão positivo ter surgido da própria terapia dele é demais. Na minha opinião ele definitivamente achou seu propósito na vida e eu estou muito feliz por ele.

O SerenityOS é um projeto extremamente interessante por si só. Ele contém código para o kernel, bibliotecas, serviços e aplicações, tudo em um único repositório. Ele te convida a se familizarizar com o sistema inteiro e ver como cada componente interage com os outros e se encaixa no todo. Além do mais existe uma variedade tão grande nos tipos de problemas que cada componente está tentando resolver que parece que sempre tem algo interessante para explorar no Serenity.

Mas ter tudo no mesmo lugar não é útil só para aprender sobre o código. Quando você faz o sistema inteiro, é possível fazer algumas integrações muito legais. Algumas das minhas funcionalidades preferidas do Serenity são:

  • Todos os dados expostos pelo kernel através de arquivos no estilo procfs são no formato JSON!
  • O aplicativo Profile Viewer não só é capaz de mostrar perfis de desempenho do sistema inteiro com as pilhas de execução em árvore como também até identificadores colocados pelas aplicações amostradas para demarcar eventos interessantes!
  • Existe uma bela linguagem de marcação para descrever a GUI dos aplicativos, GML, e o aplicativo GML Playground mostra uma visualização em tempo real conforme você escreve!
  • Em todas aplicações (a não ser que explicitamente desabilitado) é possível abrir uma paleta de comandos, com todos os comandos da aplicação.

Outra vantagem em fazer o sistema inteiro é que mudar APIs é muito mais fácil, já que eles controlam ambos os lados. Isso permite iterar mais rapidamente e que melhores formas de fazer as coisas evoluam com o tempo sem haver necessidade de manter as iterações anteriores para manter a retrocompatibilidade. Dito isso, essa flexibilidade não se estende para a ABI e interações com o usuário. E apesar de até o momento essas também terem sido alteradas livremente, eu não sei o quanto disso é apenas devido ao SerenityOS ainda ser visto como em desenvolvimento e não haverem usuários de verdade. Mas talvez sendo um sistema "por nós, para nós" como diz o README, a habilidade de melhorar até mesmo na ABI pode ser vista como mais importante do que mantê-la estável. O tempo dirá.

Quanto às minhas contribuições, até agora eu fiz apenas algumas, principalmente, o suporte mais básico possível para mostrar capas de álbum no Sound Player e adição de suporte para múltiplos layouts de teclado no aplicativo Keyboard Settings. Mas eu me diverti bastante trabalhando nelas, e estou ansioso para contribuir mais.

Atualização: no dia seguinte da publicação desse artigo a minha contribuição no Sound Player foi mostrada no vídeo de atualização do SerenityOS de Abril! 😃

Uma coisa que realmente me fez pensar foi o objetivo do Serenity de ter uma GUI no estilo de 1990. Quando eu comecei a usar e aprender sobre Linux alguns anos atrás, eu imediatamente fui atraído pelos programas CLI e TUI e preferi eles desde então. Eles representavam um paradigma bem diferente dos programas GUI que eu estava acostumado no mundo Windows. No terminal não havia medo de expor todas as funcionalidades de uma maneira bem flexível, existia muito mais espaço para customização e a performance tendia a ser melhor.

Mas depois de ver a abordagem do Serenity, eu acho que meu desprezo por aplicações GUI tem sido equivocado. Com a mentalidade certa, programas GUI podem sim ser bastante flexíveis, customizáveis e ter boa performance. E além disso podem ter uma aparência consistente e estética agradável. O que mais você quer de um software? Em resumo, eu agora estou confiante de que eu prefiriria usar GUIs para a maioria das tarefas, é só que as que estão por aí não tendem a focar nas coisas certas para mim.

O SerenityOS ainda passa a sensação de um brinquedo. E é bem divertido brincar com ele. Mas eu também concordo com muitos dos seus objetivos, e ele está crescendo muito rápido, portanto é um SO bem promissor para mim. Por um lado, eu gostaria que ele já estivesse pronto para o uso cotidiano para que eu pudesse mudar para ele logo, mas por outro, isso tiraria toda a diversão de chegar lá (tanto em contribuir eu mesmo quanto assistir aos vídeos do Andreas!). Fora que é mais fácil contribuir quando ainda tem bastante coisa para fazer 🙂.